sábado, 4 de julho de 2009

A Geladeira e o Pedreiro

Em Caitité (PE) vivia Pedro Chico. Até aí nada de mais; a mulher analfabeta, o pai alcoólatra, irmãos vários, nem era preciso contar, vinham ao mundo naturalmente, não havia televisão. Mas para Pedro Chico o mais importante, era ter uma geladeira... o calor era demais; água? Sim, tinha um poço, mas a melhor, água de coco, pois palmeiras não faltavam, tinha muitas, que abarrotadas pelo peso dos cocos, pendiam para baixo. Pedro Chico pensava, não tinha mais á fazer. Olhando as palmeiras açoitadas pelo vento noroeste, vindo do mar distante, se perguntava; as palmeiras são fortes, porque um punhado de cocos as vergava para baixo. Um professor de uma pequena escola vizinha quando perguntado, porque os cocos quase punham abaixo as palmeiras, respondia a Pedro Chico que lhe fazia a pergunta; meu filho, é a força da gravidade, essa força puxa tudo para baixo. Pedro Chico pensava; que força esquisita é essa? Só conheço mulher grávida, barrigona grande que faz a mulher quase abaixar pelo do filho que ela vai parir dentro de alguns dias, segundo a parteira da comunidade.

Deixando isso de lado, pois seu sonho é ter uma geladeira e não filhos que vinham ao mundo quando sua sexualidade lhe exige. Mulher, não lhe faltava, Pedro Chico tinha fama de ser bem dotado. Mas a geladeira não lhe saía da cabeça, que fazer; vá trabalhar Pedro Chico, lhe diziam seus amigos, assim você ganha dinheiro, mesmo que demore muitos meses, mas precisa economizar - principalmente tomar menos cachaça. Era um sacrifício, mas tinha que sacrificar esse vício, pois a geladeira era um sonho. O pedreiro Pedro Chico buscava bicos, fazia muros, cercava poços, ajuntava pedras para arrumar seu barraco, espalhar pelo caminho, pois a chuva era demais, muita lama, com o tempo formou um caminho de pedras e assim caminhava para o trabalho, mas no caminho passava na bodega, precisava de uma branquinha que escorresse pela garganta seca pela poeira da estrada, não perdia o vicio, mas perdia o dinheiro que economizava para comprar sua geladeira, seu sonho de muitas noites mal dormidas.

Passaram-se dias, meses e anos, contava o dinheiro economizado, ainda não dava para comprar a geladeira, não tinha crédito na loja de eletrodomésticos. Um palavrão era inevitável, porque um vizinho meu tinha crédito e eu não? Uma pessoa próxima, ouvindo os resmungos de Pedro Chico lhe dizia; Pedro Chico, o Zé Carioba trabalha na loja, ele também queria uma geladeira para dar de presente á sua companheira, que lhe exigia uma geladeira se queria ter filhos, e conseguiu, as prestações eram descontadas de seu minguado salário, economizava tudo, até cueca- só usava calção. Mas na loja não podia, era preciso respeitar os fregueses, comprou uma calça e uma camiseta, para conservar o emprego, e pagar as prestações da geladeira. No ínterim sua companheira o abandonou, um guapo caixeiro viajante lhe passou uma cantada, bem encantada com o 'Seu' Anastácio, fugiu com ele, que lhe prometia uma vida melhor desde que lhe fosse fiel.

Era difícil, ela só pensava 'naquilo' - mas seu Anastácio tinha uma certa idade, uma vez por mês e olhe lá. Com o tempo, e a falta de sexo deixou o seu Anastácio. Voltou a Caitité, procurou Pedro Chico que já tinha outra namorada, que precisava de sexo e não geladeira. - Pedro Chico vendo sua antiga namorada, gritou: Chiquinha! Comprei uma geladeira, me custou muito, era meu sonho meu amor; Chiquinha olhando para Pedro Chico falou; geladeira pra que, aqui tem muito vento, de noite é muito frio, preciso me esquentar, tenho muito amor pra te dar Pedro Chico, esqueça a geladeira, vamos amar, preciso muito e você é bom de cama. Pedro Chico pensou, e eu pensando em geladeira para gelar minha água de coco. Vou vender a geladeira, pegar minha Chiquinha, dar amor que ela e eu preciso. Geladeira fica para mais tarde, não é muito importante, o importante é o amor, mulher faz muita falta, e a Chiquinha é boa de cama, é mulher bonita, morena, olhos negros. Não dizem que macho precisa de mulher? - eu sou muito macho, sou garanhão, depois da Chiquinha. Vou procurar mulher, tenho sede de mulher, e não sonho mais com geladeira.

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